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Setembro Amarelo: Ipesaúde aborda os fatores de risco causados pela pandemia

Por Alessandro Augusto Soledade Reis, coordenador do Serviço de Atenção em Saúde Mental do Ipesaúde

O advento da Pandemia do COVID-19 alterou a dinâmica das sociedades ao longo do planeta, e foram utilizadas estratégias de saúde pública visando o controle da doença, a exemplo do isolamento e do distanciamento social, ações de extrema importância para evitar a disseminação do vírus, embora necessário o isolamento domiciliar obrigou as pessoas a adotarem novas mudanças comportamentais e estruturais, de maneira positiva para alguns que buscaram o autoconhecimento e aproveitaram o momento para recobrar as energias. Para outros a pausa forçada trouxe alguns prejuízos, a exemplo do aumento no consumo de álcool e abuso de outras drogas, o uso maciço das redes sociais, consumindo-se todo tipo de informação, sem filtro ou censura, o desemprego, o medo, a solidão, a crise financeira e o aumento dos casos de violência doméstica intrafamiliar e a desesperança.

Este conjunto de questões se materializam e impactam diretamente no bem-estar e na Saúde Mental das pessoas, passando por reações de adaptação já esperadas, como no caso do estresse agudo devido a adaptação a nova rotina imposta, causou também sofrimento psíquico, contribuiu para o aumento da angústia, depressão e ansiedade por exemplo. Segundo pesquisa preliminar da OPAS (2020), um terço dos pacientes que estão em recuperação da COVID-19 pode apresentar mudanças duradoras em seu humor, fatores que devido ao grau de comprometimento do sujeito podem aumentar o risco de suicídio.

O fenômeno suicídio além de complexo é multifatorial, dados da OMS no relatório “Suicide Worldwide in 2019”, afirmam que o suicídio é a maior causa de mortes no mundo, no ano de 2019 foram 700 mil casos, cerca de uma em cada 100 mortes. 12,6 em cada 100 mortes são do sexo masculino e 5,4 em cada 100 mortes são do sexo feminino, esse relatório aponta que a taxa de suicídio tem diminuído mundialmente entre os anos de 2000 e 2019, porém as Américas, na contramão do cenário mundial aumentaram suas taxas em 17%, e 51% dos casos de suicídio acontecem dentro de casa (WHO, 2014). No Brasil existe uma alta Taxa de suicídio entre o público idoso com idades acima de 70 anos, com o registro de 8,9 mortes entre 100 mil mortos. (Fiocruz, 2018). Para esse grupo, em especial, a estratégia do isolamento causa um grande impacto emocional.

Mesmo vivenciando esses momentos de isolamento e distanciamento social, as pessoas devem procurar manter vínculos sociais e cuidar de sua saúde, em especial de sua saúde mental, é de extrema importância que as pessoas estejam atentas umas as outras, aos sinais de alerta e de que forma podem agir e auxiliar na prevenção ao suicídio.

O comportamento suicida apresenta episódios de ideação, planejamento, autoagressão, tentativas, ameaças e atos suicidas, geralmente antes do suicídio a pessoa dá sinais de sua intenção, verbais e/ou comportamentais, a exemplo de: vontade de querer morrer, culpa e/ou vergonha exacerbada, sentimento de que está atrapalhando a vida das outras pessoas, falta de sentido na vida, sentimento intenso de esvaziamento, falta de esperança, tristeza absoluta, baixa autoestima, autodesva lorização, crise existencial, intensa dor emocional e/ou física, e de não encontrar razão para viver. As pessoas também buscam informações sobre formas de morrer, fazem planos para isso, afastam-se de todos, em alguns casos fazem testamento e distribuem seus pertences, se colocam de forma consciente em situações de alto risco, abusam diariamente de álcool e outras drogas ininterruptamente.

Segundo pesquisa realizada por Botega (2014) sobre o comportamento suicida, alguns transtornos mentais estão mais associados ao comportamento suicida, são eles a depressão, o transtorno de humor bipolar, a dependência de álcool e outras drogas psicoativas, esquizofrenia além de transtornos de personalidade, o transtorno mental por si só deve ser encarado com bastante cuidado e atenção quando o tema é suicídio, essa situação quando associada as mazelas da pandemia aumenta a pré-ocupação.

De que forma podemos auxiliar no momento em que identificarmos situações como estas? É preciso lembrar que o suicídio pode ser evitado. Dado o primeiro passo com a identificação precoce dos sinais, logo em seguida deve ser acionada as medidas protetivas, multiprofissional e interdisciplinar, com a inserção da família na rede de ajuda. O sujeito em sofrimento deve ser acolhido e encaminhado o mais rapidamente possível para um profissional da saúde. O apoio psicossocial associado a intervenção clínica nestes casos proporcionam efeitos benéficos, deve-se conversar abertamente sobre a situação do indivíduo, sem paradigmas ou juízo de valores, as instituições devem investir em uma ampla campanha de divulgação de informações com embasamento técnico e responsável sobre o suicídio, divulgar em agendas permanentes quais são os locais em que a pessoa pode buscar acolhimento, ajuda técnica qualificada e profissional, a família e os amigos devem estar atentos e limitar o acesso do individuo aos meios para cometer o suicídio.

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